quarta-feira, outubro 29, 2008

Tratado sobre o pé de caju


É preciso esperar nove meses até a chuva do caju. Esse tempo é a gestação do cerrado, mas diferente do humano, a fecundação dessa fruta parece ocorrer apenas dois meses antes dela nascer. No meio da seca de setembro, quando o mato está amarelo e o fogo parece poder surgir até de uma gota d'água, ocorre uma chuva. Ela vem bem fina e leve, só para enganar quem tem esperança de que neste ano o tempo será mais amável. É uma chuva mentirosa e oportunista, ela só quer ser o esperma que faz a terra germinar. Ou pode ser também, apenas, uma ducha de água fria para despertar o caju de uma ressaca natalina que durou até um pouco depois do dia dos pais.

Passada a chuva e a seca ainda no auge, por que eu não subiria em um pé de caju? Quem em sã consiência não iria querer subir em um cajueiro caso o destino lhe permitisse encontrar um. Eu tive essa oportunidade, vi um pé de caju. Ou pelo menos avistaram um pra mim, já que sou meio cego. Com todo o machismo e músculos flácidos que Deus me deu, pendurei-me uma primeira vez no cajueiro. Mas ele não é fácil. Depois de nove meses gerando ou esperando uma chuva fecundadora a dita planta não permitiria qualquer um catar sua cria. Um cajueiro tem mecanismos de defesa. Ao me encangar no primeiro galho e me achar o Tarzan do sertão ela se desfez de mim em poucos intantes. A casca se desfez e afogou meus olhos de um pó wur objetiva cegar os inimigos.

Não me dei por vencido. Cheio de testosterona e pose de macho para as mulheres próximas, estufei o peito e puxei um galho da planta para baixo. Ela estava vencida. Eu era o macho dominante sobre todas as coisas. Engano meu, um cajueiro é um sobrevivente, enquanto tudo derrete em volta ele continua e ainda gera vida. Propositalmente a planta abandonou aquele pedaço de galho, o deixou se romper e eu me espatifei. Não há outra palavra. Espatifar é o verbo correto para o que ocorreu comigo naquela tarde. O tompo não fez um simples "poc". Foi mais que um "timbu", por isso eu me espatifei e o pé de caju riu de mim. Se não ele, pelo menos as meninas que estavam próximas caíram na gargalhada. Ferido e humilhado, fiquei no chão por alguns minutos sentindo todas as dores, a pose de macho dominante foi trocada pela de menino sapeca que sempre se machuca.

A estratégia deu certo e o cajueiro teve dó e deixou cair algumas frutas. As meninas também tiveram dó e cuidaram de mim. Enfim a derrota não foi total, não fosse por um formigueiro na raíz da planta. Quando eu catava mais algums frutas ele me deu uma rasteira e mais uma vez me espatifei, perdi todos os cajus e ganhei mais algumas gargalhadas femininas.

8 comentários:

Julliany Mucury disse...

Bunitu!

Leilane Menezes disse...

HAHAHAHAHAHA

não sei se ri mais lendo o relato ou vendo a cena ao vivo.

Tadinho, gente. Eu queria ter filmado. A queda não fez bem pra ele. Logo depois, Sr. Martins avistou um "pé de joão de barro". Vai entender.

Leilane Menezes disse...

HAHAHAHAHAHA

não sei se ri mais lendo o relato ou vendo a cena ao vivo.

Tadinho, gente. Eu queria ter filmado. A queda não fez bem pra ele. Logo depois, Sr. Martins avistou um "pé de joão de barro". Vai entender.

Anônimo disse...

Retribuindo a visita ganhei de "prêmio" a cena do dono do blog se estatalando no chão por causa de um caju. Mas em si tratando de caju, qualquer queda vale a pena! Ou seria qualquer caju vale a queda!? Obrigado pela visita e pelas palavras de incentivo. Forte abraço.

Anônimo disse...

Lembrei-me de uma música da Luciana Mello: Na galha do cajueiro.

Segue um trecho:

"Papai, mamãe não quer que eu suba no cajueiro
Ela falou se eu subir eu caio
Da galha do cajueiro"
(...)
"Me tira mamãe, me tira
Me tira desse castigo
Eu subo naquela galha não corro nenhum perigo"

Anônimo disse...

SAHUHSUAHSUA
coitado do homem, mas, tudo faz sentido neste texto, muito legal, parabéns! Se quiser passa no meu blog depois:
http://www.notreadyyet.co.nr/
obrigado!

Thiago disse...

Ótimo blog


Abraços
Thiago França
Guia de Brasilia

Karenina disse...

João! Adorei teu blog... Adorei o cajú! Bjos, Nina.

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