Imagem de Victor Martins
Nunca fui bom de bola. Ao contrário, sou o que podem chamar de “o pereba”. Quando estava na oitava série jogava futebol no time da escola. Naquele ano, joguei a final do campeonato entre escolas. Cenário perfeito para levar a família e torcer. Evento único. Para um único jogo, pedi a minha avó que me comprasse meião e caneleiras. Pois era determinante que o meu desempenho fosse digno de um profissional.
Minha equipe perdia por consideráveis 2x0. A torcida do meu colégio tentava empurrar o time para uma possível reação. Nada feito. O time adversário marcou mais um gol. E mais outro. Dois belos gols. Enfim, já eram quatro gols. O time do colégio Rio Branco, do qual eu fazia parte, perdia por 4x0 para o time do La Salle. E em casa. Eu, que nunca tive físico de esportista aquecia o banco de reservas. Sempre gostei de repetir o prato na hora do almoço. Estava lá, calado e quieto.
Impulsionados pelos meus amigos e familiares que entoavam o meu nome, a torcida fez coro para gritar “DECO...DECO...DECO.” Era fato. Não havia mais saída. Nem que eu fosse o Ronaldinho ou Pelé. Nada daria jeito naquela situação. Mas, atendendo as ordens do professor, me aqueci e entrei em campo. Era o defensor. O tradicional jogo de salão. Quatro na linha e um no gol.
Poucos minutos após a minha entrada, um garoto, que tinha a metade do meu tamanho e peso ultrapassou a linha do meio campo e parecia querer colecionar dribles. Em pouco tempo ele driblou um, dois e três jogadores do meu time. Até o goleiro entrou na roda. E para surpresa de muitos eu era o último homem a ser driblado. Estava ante ao guarda redes. O garoto chutou a bola e eu fui em direção a ela. Meu pé direito tocou a superfície do capotão e por meio segundo pensei: “serei o salvador do jogo”.
Num baque, o meu mundo desabou. Eu não só tinha falhado na tentativa de livrar nossas redes como tinha marcado um belo gol. Só que contra. Recebi vaias e gozações pelo resto do ano. Fui lembrado sempre como o cara que marcou o gol contra na humilhante partida de fim de campeonato.
Poucas vezes mais resolvi me aventurar pelos campos gramados e marcados a pó giz. Mesmo porquê, alguns meses após a vergonhosa atuação, resolvi jogar golzinho de rua. Dessas peladas que jogam três de um lado contra três de outro. Nessa nova empreitada quebrei minha canela ao meio. Fiquei pouco mais de 60 dias de gesso. E era dos grandes. Daqueles que sobem até a cocha da perna. Mas isso já é história para uma outra conversa...