segunda-feira, abril 10, 2006

Meninos de Santo Antônio

Texto e imagem de Alexandra Martins

Na cidade de Santo Antônio do Descoberto (GO), a 48 quilômetros de Brasília, com R$ 300 reais as crianças podem comprar 150 sorvetes de três bolas e 375 picolés. Porém, com a mesma quantia, também podem comprar uma arma de calibre 38 na Rua da Alegria, local de maior movimento noturno da cidade.
Os meninos de Santo Antônio são crianças com pouca perspectiva de vida. A cidade não lhes oferece oportunidade: grande parte deles estuda até a oitava série e se casam, outras entram no tráfico. “Quando o governo lhe dá as costas, os bandidos lhe dão as mãos” desabafa Maria Alice, professora de matemática da segunda série. Com o passar do tempo essas crianças passam a enxergar bandidos e traficantes como figuras a ser seguida.

Com cara de cidade do interior, a pequena cidade de Santo Antônio do Descoberto não se difere muito das grandes favelas do Rio de Janeiro onde, na mente dessas crianças, é visível uma troca de papéis entre mocinhos e bandidos. O Conselho Tutelar, órgão de proteção aos direitos das crianças e adolescentes, e os policiais tornam-se vilões e figuras temidas.

Denise da Silva, segurança municipal do Conselho Tutelar, explica que o órgão não é repressor e tem como objetivo orientar e incentivas crianças a permanecer no colégio. De acordo com Denise, elas envolvem-se com a droga por falta de lazer. A situação de pobreza soma se com a falta de atividades no colégio e na cidade e colabora para os traficantes chegarem mais próximos das crianças. Elas deparam com um tempo livre que se reduz a trabalhar para ajudar financeiramente em casa ou permanecer na rua sem qualquer atividade.
Jesus no céu e Sr. Adalberto na Terra
Engana-se quem imagina que os meninos de Santo Antônio não tem perspectiva de vida. Isso elas têm. Porém, quem lhe dá oportunidades e atenção, infelizmente, são personagens do tráfico.
No interior de Santo Antônio do Descoberto as crianças vivenciam outra realidade. Enquanto no centro o colégio é visto como uma obrigação, no interior elas têm uma relação de dependência. Integrantes da Escola Caminho da Luz oferecem comida, tratamento médico e brincadeiras. O colégio abre espaço para mães dos alunos trabalharem como voluntária na cozinha, costura, pintura ou berçário. Em compensação, elas recebem todos os benefícios que a escola oferece e cesta básica.

A escola Caminho da Luz é um exemplo para a cidade. Tal mérito não se deve aos incentivos do governo para financiamento de infra-estrutura. Sr. Adalberto, como é conhecido pelas crianças, é uma pessoa muito tranqüila e esperançosa que há 10 anos colabora para o crescimento do colégio. Sua última boa ação foi aumentar a biblioteca e incluir espaços para apresentação de vídeo e uso de computadores. Quem trabalha na escola acredita que Sr. Adalberto é um homem santo pois veio dele o incentivo para o colégio torna-se o que é hoje.
Mesmo com todos esses benefícios, os meninos do interior acreditam que os do centro tem muito dinheiro. Parece que Santo Antônio do Descoberto não está longe dos contrastes brasileiros em que pobres e “ricos” moram tão próximos.

2 comentários:

Martins disse...

A infância é roubada violentamente dessas crianças. A essas situações perguntamos: "porque?" Mas acho que não cabe a mim dar as respostas a essa questão, cabe a cada um pensar melhor as respeito.

Marjorie Chaves disse...

Onde estamos errando? O erro é só do Estado? Mas e a responsabilidade das famílias? E a responsabilidade social? E a minha responsabilidade? E a sua?

Enquanto não entrarmos em consenso de que tod@s nós temos uma parcela de culpa, não chegaremos a lugar nenhum.

Temos culpa, porque fechamos os olhos. Porque achamos que não é da nossa conta. Porque não são nossos filhos. Porque só esperamos pelo estado.

O que é mesmo cidadania?

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