(texto para páscoa)
Vida de jornalista é contar letras, virgulas, palavras e fatos. Como pretenso jornalista também preciso assumir essa atribuição. Jesus da Vila, não morava em vila alguma, não morava em casa alguma, se abrigava em um barraco na extinta invasão do Vai Quem Quer em Taguatinga – lugar que na verdade ninguém queria ir. Nasceu na páscoa. Nunca comemorou aniversário, coelho ou chocolates. Gostava do final do ano e das comemorações natalinas, sempre providenciava uma ceia para família.
Um jornalista precisa dizer em uma notícia: O que, quando, onde, como e por que. A pretensão de seguir essa profissão me leva a escrever as outras perguntas que ainda faltam neste texto. E falta relatar que Jesus, o da Vila, tinha doze irmãos. Os mais novos ainda acreditavam no Natal (não em Papai Noel), e queriam comemorar o nascimento do outro Jesus, o de Nazaré.
Jesus era boa gente, ajudava ao próximo, acreditava em Deus e pregava aquilo que acreditava. Peço desculpas ao leitor se fiz confusão em vossas cabeças com “tantos Jesus”. Mas cada um, por meios diferentes, realizou grandes feitos. Vamos contar a história só do Jesus da Vila.
Sem falar dos méritos do rapaz, voltemos a antes do inicio da história, quando o da Vila queria fazer uma ceia de natal para os irmãos. Queria convencer a alegria de ir ao lugar onde ninguém queria ir. Difícil foi convencê-la, por isso Jesus fez o que alguns excluídos têm de fazer para sobreviver – “meteu um assalto", roubou vinho e pão. Assim, foi delatado por um “ex-amigo”, o qual se vendeu ao dono da padaria, patrão da polícia, e essa última – a polícia – escreveu o resto da história: Prisão, tortura, humilhação e morte.
Ironia é um Jesus morrer na noite qual o outro havia nascido. Semelhante ao nazareno este também entrou para História, essa história. Além do mais, esse Jesus também teve discípulos: Pedro, assassino e traficante; João assaltante e estuprador, e para não ficar falando de todos, lembro o último; Judas, professor na rede pública de ensino, o único crente no natal. O pior é o jornalista ter de contar isso e só ter direito a uma notinha.
Um comentário:
Esta história do Jesus é a história de tantos outros... Ontem eu vi no Fantástico a história de um pedreiro que foi preso por porte de arma e permaneceu um bom tempo na cadeia, o que não acontece com muitos... No dia em que iria sair, morreu asfixiado com a fumaça provocada pela rebelião na cadeia.
Triste fim.
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